Com intenção de não dividir o bloco dos que defendem alternativas “democráticas politicamente”, “progressistas socialmente” e “responsáveis economicamente”, o PPS decidiu não ter candidato próprio a presidente da República nesta eleição. Apesar de contar com nomes como Raul Jungmann, Rubens Bueno e Roberto Freire, entre outros, o partido preferiu iniciar diálogo com candidatos de outros partidos, no sentido de construir um programa de governo capaz de dar coesão e rumo ao país. Lamentavelmente, isso não aconteceu.
O PPS ficou sem candidato, os representantes daquele bloco se dividiram, e nenhum deles decola eleitoralmente. A poucos meses do pleito, o processo acena para um segundo turno entre “reacionários socialmente”, “irresponsáveis economicamente” ou “antidemocráticos politicamente”. Caminhamos para o radicalismo nostálgico, seja do autoritarismo, seja do populismo, tendo que optar entre a catástrofe e o desastre.
Se o PPS tivesse lançado um candidato que também não tivesse decolado nas pesquisas, seria o momento de se retirar, defendendo um encontro pelo Brasil. Com uma proposta que unifique os candidatos que se proponham a: respeitar a Constituição, o marco legal e as conquistas relacionadas aos direitos humanos e civis; exercer responsabilidade fiscal, com os limites de gastos dentro dos tetos da arrecadação; lutar rigorosamente contra a corrupção; escolher colaboradores com ficha limpa, sobre os quais não pesem denúncias jurídicas; na escolha desses colaboradores, priorizar o mérito técnico sobre indicações partidárias; apresentar propostas para quebrar o ciclo de pobreza, pelo aumento da renda nacional e sua distribuição social, afirmando e apresentando estratégias de longo prazo para o Brasil dar o necessário salto de qualidade na educação para todas nossas crianças, independentemente da renda da família; ter compromisso com a solução da crise financeira das universidades federais e dos institutos de pesquisas científicas, propondo um pacto para que nossos professores, alunos e pesquisadores executem uma reforma estrutural que ponha o sistema científico e tecnológico compatível com as necessidades da economia do conhecimento; assumir compromisso de enfrentar com toda força o crime organizado; definir medidas para vencer a violência urbana; apresentar propostas para uma reforma fiscal que faça nosso sistema tributário mais simples, mais justo e mais protegido contra a sonegação; definir as medidas necessárias para recuperar e promover a cultura e proteger o meio ambiente.
O candidato que se dispusesse a sair da disputa e propor um encontro pelo Brasil deveria cobrar do candidato escolhido clareza com reformas de que o Brasil precisa nas relações capital-trabalho e na sustentabilidade da Previdência para as próximas gerações. Esses são alguns dos compromissos que poderiam unificar em um grande encontro os candidatos que se proponham a conduzir os destinos do país ao longo dos difíceis anos adiante, evitando desastre e catástrofe previsíveis.
Cristovam Buarque
Senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
Nenhum comentário:
Postar um comentário